Estremoz ficou mais pobre. Faleceu hoje, aos 80 anos, no Hospital do Espírito Santo, em Évora, o artesão estremocense Januário Coradinho.
"Januário António Almeida Coradinho nasceu a 9 de Dezembro de 1932, no Monte do Januário, Freguesia de Santa Maria (Estremoz).
Frequentou a escola da Estação do Ameixial, e fez a quarta classe na Escola Masculina que funcionava no edifício onde hoje está instalado o Museu Municipal.
Com 13 anos, não quis estudar e saiu da escola. Começou a trabalhar numa oficina de fundição. Mas, aos 16 anos deixou a oficina para fazer uma temporada de ceifa, trabalho mais duro mas que o deixava mais bem disposto pois tinha como colegas muitos rapazes e raparigas da sua idade.
Entre os 16/ 17 anos foi criado de servir, ganhava 150$00 (cerca de 0.75€) por mês mais alimentação e dormida. Algum tempo depois foi para a Quinta do Pimentel para criado “grave” (fino), onde tinha como tarefas trabalhos mais leves como carregar a água para a casa, amassar e cozer o pão, para além de ter o privilégio de fazer as refeições na cozinha dos patrões.
Em Abril de 1953 foi chamado para cumprir o serviço militar obrigatório. Quando saiu da tropa ainda regressou para a Quinta do Pimentel, mas em 1957 saiu para trabalhar nas pedreiras onde esteve pouco tempo, pois teve uma proposta para ir trabalhar para a câmara. Pediu opinião à mãe, que o aconselhou a aceitar por se tratar de um trabalho mais seguro. O que não se revelou. Pois poucos dias após estar no novo emprego caiu de cima de uma camioneta e esteve hospitalizado quase um mês.
Em 1958 entra no quadro da câmara onde trabalhou 30 anos. Era cantoneiro e o Dr. Rosado, presidente da câmara na altura, ia-o chamando, quando necessário, para trabalhar na criação do novo museu e em escavações, até que foi nomeado para técnico auxiliar de museografia.
Januário foi sempre homem de grandes habilidades, e ao longo dos anos foi fazendo pequenos trabalhos, muitos deles por incentivo do Prof. Joaquim Vermelho , com quem trabalhou no Museu Municipal de Estremoz. Existem ainda hoje, no museu, muitos objectos decorativos e expositores idealizados pelo Prof. Vermelho e que foram concretizados pelo Sr. Januário. (...)"
Entretanto, num espaço da sua casa, ao Arco de Santarém, abre uma oficina de restauros. Ali entretêm-se também a fazer peças de arte pastoril e de arame. Dada a sua qualidade, é convidado a participar na Feira de Artesanato, a qual frequenta durante mais de 20 anos. Fez-se também representar na primeira edição da EncontrArtes.
Em 2008, expondo a sua fantástica colecção de ferros de engomar antigos no Centro Cultural, o Museu fez-lhe uma pequena e sentida homenagem, em reconhecimento pelos relevantes serviços prestados a esta instituição.
Depois desta homenagem, abre a visitas ao público a sua antiga oficina de Restauros, para mostrar a colecção de ferros de engomar e algumas peças de artesanato.
Na exposição "Homenagem dos artesãos de Estremoz a Joaquim Vermelho", em 2012, colabora com o Museu Municipal de Estremoz Professor Joaquim Vermelho, pela última vez.
Até sempre Senhor Januário...
Texto: Pedro Soeiro c/ blogue do Museu Municipal de Estremoz Professor Joaquim Vermelho | Foto: DR
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