A cientista estremocense Rita Guerreiro é investigadora da
University College London e recebeu recentemente, em Paris, o “Prix Européen
Jeune Chercheur”, o Prémio Europeu do Jovem Investigador, numa votação levada a
cabo por um comité científico europeu.
Desde a atribuição do prémio, foram várias as entrevistas
dadas pela Rita, quer à imprensa nacional, mas também à imprensa regional e
local.
Destacamos esta por ser a última. Numa entrevista assinada
por Martha Mendes, e publicada hoje no “Porta351”, uma revista digital de
informação geral, que pretende ser “uma porta para comunicar com os portugueses
espalhados pelo mundo”, Rita fala do prémio, do trabalho desenvolvido até aqui,
de Portugal, da emigração, e como não podia deixar de ser, do “seu” Alentejo.
Rita Guerreiro é a cientista portuguesa que recebeu
recentemente o “Prix Européen Jeune Chercheur” (Prémio Europeu do Jovem
Investigador), cuja votação foi feita por um comité científico europeu.
Investigadora da University College London, em Londres, Rita saiu de Portugal
há oito anos e, para já, não pensa regressar, apesar das saudades “da comida,
do bom tempo e, principalmente, da serenidade do Alentejo”. A trabalhar na área
das mutações do gene TREM2 – indicado como possível fator de risco da Doença de
Alzheimer e de outras doenças degenerativas como a Demência Frontotemporal –
Rita vai usar o dinheiro do prémio “para expandir os projetos e estudar mais
famílias com formas raras de demências”. Um dos objetivos futuros é
“identificar as causas genéticas de doenças neurológicas em famílias
Portuguesas”. Em conversa com a Porta351 Rita Guerreiro falou do seu trabalho,
das políticas de apoio à investigação científica, do trabalho de equipa, do
presente e do futuro. Em cinco respostas.
1. Recebeu, recentemente, o “Prix Européen Jeune Chercheur”
(Prémio Europeu do Jovem Investigador), cuja votação é feita por um comité
científico europeu. Sente-se recompensada pelo seu trabalho?
R.G.: Não sinto que seja tanto uma recompensa, mas mais um
reconhecimento do trabalho que temos vindo a desenvolver. É um prémio
individual, mas resulta de um trabalho de equipa, não só do grupo com o qual
trabalho diretamente na University College London (UCL), como também dos
colaboradores que temos a nível nacional e internacional.
2. Pode explicar-nos, resumidamente, o trabalho que tem
desenvolvido sobre as mutações do gene TREM2, indicado como possível fator de
risco da Doença de Alzheimer e de outras doenças degenerativas?
R.G.: Inicialmente identificámos mutações no gene TREM2 ao
estudar famílias de origem turca com formas recessivas de demências. Em três
famílias identificámos alterações neste gene que causavam demência
frontotemporal. Quando testámos o mesmo gene noutras formas de demência,
verificámos que ao compararmos doentes com doença de Alzheimer com controlos
saudáveis, o grupo de doentes apresentava um maior número de alterações neste
gene. Uma variante em particular (R47H) era significativamente mais frequente
nos doentes do que nos controlos. Concluímos, assim, que mutações no gene TREM2
causam formas raras de demência frontotemporal e que uma variante no mesmo gene
aumenta o risco para o desenvolvimento da doença de Alzheimer.
3. Faz parte do Departamento de Neurociência Molecular do
Instituto de Neurologia da University College London. Porque é que decidiu
emigrar para desenvolver o seu trabalho? Portugal não dá as condições
necessárias aos seus investigadores?
R.G.: Vim para Londres após terminar o doutoramento nos EUA,
porque tive a oportunidade de vir trabalhar diretamente com um dos maiores
nomes internacionais em neurogenética. Esta é uma área muito específica e não
existem muitas oportunidades destas. Neste momento é difícil ter financiamento
para investigação em qualquer parte do mundo, mas é particularmente difícil em
Portugal. O investimento que foi feito há uns anos não teve continuidade e
grande parte do dinheiro investido não teve retorno para o país, porque não
foram criadas estruturas capazes de atrair muitos dos investigadores que saíram
para concluírem ou melhorarem as suas formações.
4. Saiu de Portugal em 2006. Como é que descreveria estes
anos de emigração? Pensa regressar? Sente falta de Portugal?
R.G.: Saí de Portugal para os Estado Unidos (Washington DC)
e, posteriormente, vim para Londres. É sempre muito difícil deixarmos a família
e os amigos. Tive a sorte de partilhar este caminho a nível pessoal e
profissional com o meu marido [José Miguel Brás divide com Rita Guerreiro a
chefia do Departamento de Neurociência Molecular do Instituto de Neurologia da
University College London]. Os primeiros anos foram mais complicados, mas neste
momento temos financiamento para mantermos o nosso laboratório e podemos seguir
as linhas de investigação que consideramos mais importantes, o que seria muito
difícil de conseguir em Portugal. Por esta razão não pensamos em regressar num
futuro imediato, apesar de sentir muita falta da comida, do bom tempo e,
principalmente, da serenidade do Alentejo.
5. O Prémio Europeu do Jovem Investigador tem o valor
financeiro de dez mil euros. Já sabe como é que vai aplicar este dinheiro?
R.G.: Vou usar este dinheiro para expandir os projetos que
temos a decorrer no laboratório, de forma a conseguirmos estudar mais famílias
com formas raras de demências. Temos, neste momento, várias colaborações com
grupos em Portugal e espero que este dinheiro nos ajude a identificar as causas
genéticas de doenças neurológicas em famílias Portuguesas.
Texto: Pedro Soeiro c/ Martha Mendes | Imagens: DR
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