O decreto-lei do Governo, que acaba com a comparticipação ao policiamento nos jogos de Iniciados e Juvenis, bem como a insatisfação dos árbitros para com o estremocense Amaro Camões, presidente da Associação de Futebol de Évora (AFE), após declarações proferidas pelo próprio numa reunião na Federação Portuguesa de Futebol, levaram a que os Núcleos de Árbitros de Futebol de Évora, de Vendas Novas e da Zona dos Mármores, que representam a arbitragem no distrito de Évora, estivessem reunidos no dia de ontem, quinta-feira, para discutir aquilo que consideram ser a "crise da arbitragem eborense".
Da reunião, "após auscultação de todos os árbitros", saíram sete deliberações, sendo a mais importante a "indisponibilidade" dos juízes para apitar quaisquer jogos da AFE já no próximo fim-de-semana e a decisão de pedir dispensa "por tempo indeterminado" a partir do fim-de-semana seguinte.
Através de comunicado, os três núcleos lamentaram a forma como a AFE "tem encarado a arbitragem como uma mera despesa, promovendo sucessivos cortes e medidas que visam apenas critérios economicistas, sem ter em conta os interesses quer dos árbitros, quer das próprias equipas e sem ouvir nada nem ninguém".
Em declarações à LUSA, Hugo Quintino, presidente do Núcleo de Árbitros
de Futebol de Évora, referiu que os juízes estão insatisfeitos com o presidente
da AFE, Amaro Camões, porque não se tem mostrado "minimamente preocupado
com a situação" do fim da comparticipação ao policiamento nos jogos
de Iniciados e Juvenis, e porque afirmou que "apenas precisava de equipas
e de um campo para fazer os jogos".
E ninguém sabe dizer se há futebol no distrito de Évora, este fim-de-semana.
Leia o comunicado na íntegra:
«Os três núcleos representativos da arbitragem distrital de Évora, reuniram hoje com os seus árbitros, tendo como ordem de trabalhos o tema da “crise da arbitragem eborense”. Esta reunião, vem no seguimento das infelizes declarações do Senhor Presidente da Associação de Futebol de Évora, numa reunião na FPF onde se debatiam assuntos relevantes para o futebol português e, como é lógico, do futebol eborense.
Desde a algumas épocas a esta parte, a Associação de Futebol de Évora tem encarado a arbitragem como uma mera despesa, promovendo sucessivos cortes e medidas que visaram apenas critérios economicistas, sem ter em conta os interesses, quer dos árbitros, quer das próprias equipas, sem ouvir nada nem ninguém.
Os árbitros estão cientes das dificuldades que o país atravessa e as instituições, como a AFE, também têm as suas limitações orçamentais, mas os árbitros de Évora há mais de 10 anos que não têm aumentos nas tabelas de prémios. Nós somos os únicos agentes intervenientes no jogo, em que tudo o que ganhamos é declarado às Finanças, contrariamente a outros, que também se dizem amadores.
Os árbitros têm que comprar do seu próprio bolso, equipamentos, apitos, bandeiras, cartões, calçado, tudo aquilo que é necessário para arbitrar um jogo. Isto é, pagamos para arbitrar!
Acabaram com os apoios aos três centros de treino do distrito (Borba, Évora e Vendas Novas), sem apresentarem alternativas e sem ouvir os árbitros.
A formação teórica e prática é inteiramente suportada pelos três núcleos, não tendo a AFE qualquer custo com esta formação. Isto é, são os núcleos que preparam os árbitros para arbitrarem os jogos organizados pela AFE.
Sentimo-nos desprotegidos pela entidade que representamos todos os fins-de-semana pelos vários campos de futebol deste distrito. As penas aplicadas aos prevaricadores (jogadores, dirigente e técnicos) são um claro incentivo à própria prevaricação. Quem infringe as Leis do jogo, quem não tem um comportamento responsável, quem insulta, quem ofende, quem agride, quem tenta agredir tem que ser severamente punido!
Com a entrada em vigor do novo Decreto-lei, sobre a não obrigatoriedade do policiamento nos jogos de juvenis e iniciados, achamos que não foi correcto da parte do Senhor Presidente da AFE, não só, não ter encontrado uma solução atempada para resolver este problema, mas também pelo facto de manifestar que sobre este assunto “não precisa dos árbitros para nada”… “apenas dos clubes”. Entendemos estas declarações como muito graves, ofensivas para aqueles que representam a AFE nas competições organizadas por esta e que nos merecem total repúdio.
Como tal foi decido pelos três núcleos, após auscultação de todos os árbitros, o seguinte:
1- Não existir disponibilidade da parte dos árbitros em arbitrar qualquer jogo das competições oficiais da AFE no próximo fim-de-semana de 9, 10 e 11 de Novembro, para os quais foram nomeados;
2- Avançar com pedido de dispensa por tempo indeterminado a partir no fim-de-semana de 16, 17 e 18 de Novembro, por parte de todos os árbitros dos quadros da AFE;
3- Exigir um pedido oficial e público de desculpas por parte do Senhor Presidente da AFE a todos os árbitros filiados na Associação, pelas suas declarações infelizes já mencionadas anteriormente;
4- Exigir uma solução rápida, consensual, ponderada, responsável e adequada à realidade distrital de Évora para a questão da falta de policiamento nos jogos de juvenis e iniciados;
5- Exigir uma proposta de alteração das penas a aplicar a agentes desportivos, que no desempenho das suas funções prevariquem e incorram em comportamentos condenáveis;
6- Exigir uma proposta de alteração estatutária que inclua os três núcleos como membros permanentes da Assembleia-Geral da AFE, com direito a voto, tal como os clubes;
7- Exigir que os árbitros (Núcleos) sejam ouvidos e sejam parte integrante dos processos referentes aos pontos 4, 5, e 6.
Até estarem satisfeitas as nossas exigências, nenhum árbitro estará disponível para actuar em qualquer jogo das competições distritais da AFE.»
Texto: Pedro Soeiro c/ LUSA e A BOLA | Imagem: DR
Texto: Pedro Soeiro c/ LUSA e A BOLA | Imagem: DR
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