Segundo o docente universitário Ricardo Freixial, e muito
por culpa da chuva que caiu no mês de Março, algumas das culturas de Primavera/Verão,
nomeadamente o tomate, o milho, ou o melão, já estão "muito
comprometidas" no Alentejo.
O docente da Universidade de Évora, em declarações à Lusa, considerou
que com a chuva, o ano agrícola tornou-se "desfavorável" para as
culturas de Primavera/Verão, porque "estão atrasadas na sua
instalação".
O professor frisou que "no ano passado, estávamos com
um mês de Março com zero milímetros de chuva e, este ano, tivemos um mês de
Março no qual caíram cerca de 250 milímetros de precipitação".
Ricardo Freixial explicou ainda que existe "uma má
distribuição da precipitação dentro do ano e uma diferente quantidade de
precipitação ocorrida entre anos". O docente assinalou ser esta "a
grande irregularidade que caracteriza o clima mediterrânico".
No entanto, Ricardo Freixial disse que para a produção de
forragens e pastagens, o ano tem sido "extraordinário", porque
"a precipitação ocorreu muito cedo e foi continuada até Março". Freixial
sublinhou contudo que "não havia necessidade de cair tanta chuva".
"Esta chuva a mais faz com que, se calhar, essa
quantidade de pastagem e forragem produzida, muitas vezes, não possa ser
utilizada pelos animais, porque não podem entrar no terreno" que está
alagado, ressalvou.
Para as culturas de Outono / Inverno, como os cereais
(trigo, aveia e cevada), o professor universitário e agricultor destacou que o
ano está a ser "extremamente desfavorável", uma vez que "as
quantidades de precipitação ocorridas no início do ciclo prejudicaram os
períodos de instalação".
Durante o ciclo, o excesso de água no solo causou a
"asfixia radicular" e "impediu que o crescimento e o
desenvolvimento das plantas acontecesse de forma correcta", ao promover
"a lavagem do azoto e não permitir que o agricultor entre na seara para as
suas operações culturais", explicou.
Nas culturas perenes, como a vinha, os olivais e alguns
pomares, segundo Ricardo Freixial, a precipitação até foi "favorável"
para o seu desenvolvimento, mas "a quantidade de água concentrada nos
solos impede a realização de operações culturais".
Para o agricultor e docente universitário, a chuva ajudou na
reposição das reservas de água no solo e nas barragens, contudo, "a água
em excesso não vale de nada, nem sequer para as barragens, porque já estão no
limite da sua capacidade de armazenamento".
Esta situação, disse, não "garante sequer que, nos
sistemas de sequeiro, o stress hídrico na fase final de alguns ciclos não possa
vir a acontecer com prejuízo nas produções por falta de água, se nessas fases
não chover".
Texto: Pedro Soeiro c/ LUSA | Imagem: DR
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